segunda-feira, 30 de março de 2020

One Up on Wall Street




Nesta publicação vou fazer uma recomendação de leitura. Este é um livro de fácil leitura que merece ser lido por todas as pessoas que pretendem analisar empresas para investir. 
  
A principal ideia do autor é que qualquer um de nós, usando os nossos conhecimentos específicos e analisando as empresas onde pretendemos investir, conseguimos ter sucesso equivalente aos analistas profissionais. Segundo o autor as nossas ideias de empresas a analisar devem vir dos produtos e negócios que vemos/utilizamos no nosso dia-a-dia. Não devemos investir numa empresa apenas por gostar/utilizar os seus produtos mas sim ser o ponto de partida para analisar a empresa e a perceber melhor. O autor defende que desta forma vamos encontrar empresas com boa margem de crescimento que ainda não têm muita atenção por parte dos profissionais. Esta ideia de investir em boas empresas que ainda não têm muita atenção por parte dos profissionais pode dar origem aquilo que o autor chama de tenbaggers. Tenbaggers são empresas cujo o seu valor aumentou dez vezes. Imaginem investir numa empresa por 1€ por acção e passado alguns anos essa empresa cota a 10€ por acção. O vosso investimento foi multiplicado por dez. Com estes tipo de valorização é possível transformar um portefólio mediano num portefólio com alta rentabilidade. Se alguém na sua vida conseguir investir um valor razoável em duas ou três empresas destas sem dúvida ficará numa boa situação financeira. O autor defende ainda que devemos ignorar os altos e baixos do mercado e no longo prazo seremos recompensados.

Neste livro o autor divide as empresas em seis categorias. Uma empresa pode pertencer a uma ou várias categorias ao mesmo tempo e ao longo do tempo pode mudar de categorias. Segundo o autor as diferentes categorias são:
  •  Slow Growers
  •  Stalwarts
  •  Fast Growers
  • Cyclicals
  • Turnarounds
  • Asset Plays
Slow Growers (Crescimento Lento): As empresas de crescimento lento são empresas antigas que possuem uma grande capitalização e os seus ganhos crescem a uma taxa um pouco superior ao da economia. Normalmente não empresas que pagam dividendos regularmente. Devemos comprar este tipo de empresas quando o rácio Preço/Lucro e o seu Preço/ Valor Contabilístico estão baixos. Devemos ter em atenção a sua percentagem de payout em dividendos. Se for baixa dá uma boa margem para a empresa manter o seu dividendo nos tempos difíceis. Caso contrário este dividendo pode estar em risco no futuro. Devemos também estar atentos se a empresas aposta na criação de novos produtos. Caso isto não aconteça e se as suas aquisições não trouxerem valor para a empresa talvez possa ser o momento de a vender. A ideia a reter é que apesar de a empresa ser global e estar bem implementada deve continuamente procurar evoluir e trazer valor para os seus clientes e assim indirectamente para os seus acionistas. Empresas que fiquem paradas e não acompanhem a evolução podem sofrer grandes quedas e ser ultrapassadas. Alguém se lembra dos casos da Nokia e da Blockbuster. 

Stalwarts (Crescimento Médio): São também grandes empresas cujo crescimento é maior que as empresas de crescimento lento. Normalmente crescem a uma média de 10%-12% ao ano. Tal como nas empresas de crescimento lento nestas empresas devemos ter em atenção o seu rácio Preço/Lucro para não as comprar numa fase de onde estão sobre avaliadas. Devemos também ver as perspetivas de longo prazo, se são capazes de manter o crescimento atual e estar atentos quando o seu crescimento começar a reduzir pois pode a empresa pode perder algum valor. 

Fast growers (Crescimento Rápido): São normalmente empresas pequenas que tem uma taxa de crescimento anual de cerca de 20 a 25% ao ano. Se soubermos escolher é aqui que vamos encontrar várias tenbaggers. Quando encontramos estas empresas devemos analisar se a empresa ainda tem margem para continuar a crescer e expandir a este ritmo. A ideia é tentar encontrar boas empresas no começo do seu crescimento e acompanhar as mesmas durante todo este percurso. Os seus ganhos devem aumentar de ano para ano. Devemos ter presente que quando não for possível crescer a este ritmo o preço da acção pode descer. Ter também em atenção se o preço da acção subir para preços muito exagerados pode ser interessante vender e procurar outras oportunidades noutras empresas. 

Cyclicals (Cíclicas): São empresas em que as suas vendas e lucros vão subir e descer de forma mais ou menos expectável. Normalmente são empresas que estão muito dependentes da economia. A industria automóvel e aviação são exemplos de industrias cíclicas. Nos bons momentos da economia as pessoas vão comprar mais produtos/serviços destas empresas mas nos maus momentos vão talvez adiar as suas compras fazendo que que as vendas destas empresas diminuem. São empresas que podem perder muito valor nas fases menos boas e ganhar muito valor nas fases boas. Empresas cíclicas muito endividadas podem ter sério problemas nos anos menos bons. Para os investidores a ideia neste tipo de empresas é conhecer bem as empresas e ser capaz de antecipar os seus ciclos. Devemos comprar nos anos em em as vendas/lucros estão em valores mínimos, acompanhar a empresa durante os anos de crescimento de vendas e vender quando virmos que o ciclo vai inverter. Algo importante nestas empresas é estar atentos ao stock dos seus produtos. Se o stock começar aumentar pode ser um sinal que nos próximos tempos a procura vai diminuir. Pelo contrario se o stock diminuir ou as empresas começam a ser capazes de vender tudo que produzem pode ser um sinal que o futuro próximo é risonho. 

Turnarounds (Em Recuperação): Estas são empresas que sofreram grandes perdas e estiveram à beira da falência mas conseguiram dar a volta à sua situação. Se este tipo de empresas conseguirem pagar as suas dívidas e reestruturar os seus negócios podem ser um investimento com excelentes retornos. São investimentos mais riscados e quanto mais cedo se entrar na empresa maior o risco. É necessário acompanhar o ciclo negativo da empresa e tentar perceber quando existe a real possibilidade de a empresa conseguir recuperar. Quando existir essa possibilidade é o momento ideal para entrar na empresa. Podemos entrar cedo demais e a empresa não conseguir dar a volta e ficarmos sem o nosso capital devido à sua falência. Podemos entrar tarde demais e já todo o mercado percebeu a melhoria da empresa e a acção já subiu muito. Este tipo de empresas acarretam maior risco. O investidor deve ter noção que caso a empresa não consiga dar a volta aos seus problemas provavelmente irá perder todo o seu investimento.


Asset plays (Com Ativos Subavaliados): Estas empresas possuem ativos de alto valor como por exemplo imóveis ou ações de outras empresas que não estão devidamente avaliados nos seus balanços. Neste tipo de empresas o investidor deve ter a capacidade de ver para além dos números no seu balanço. Deve ter a capacidade de ver que existem ativos cujo valor não estão representados corretamente no balanço da empresa. Depois resta aguardar que o resto do mercado consiga perceber esse valor e valorizar a empresa de acordo com esses ativos. Isto pode demorar anos ou até nunca acontecer fazendo com que o investidor apesar de estar correto na sua avaliação não conseguiu rentabilizar o seu investimento.

Estas são apenas algumas características gerais que devem ser analisadas nos diferentes tipos de empresas mas teremos sempre que se ter em conta todos os outros factores e características únicas de cada empresa. Não existe uma formula genérica que garanta o sucesso em todos os casos. Será sempre necessário muito estudo dedicação e capacidade de aprender com os nossos erros. 

Deixo ainda mais algumas ideias transmitidas no livro.
  • Não devemos sobrestimar a habilidade e sabedoria dos profissionais.
  • Devemos aproveitar o nosso conhecimento.
  • Devemos procurar oportunidades em empresas que ainda não têm muita cobertura por parte dos profissionais.
  • Devemos perceber as empresas onde investimos e saber quais as razões exactas para determos essas acções. Devemos investir em empresas e não no mercado de acções.
  • Devemos ignorar as flutuações de curto prazo.
  • Evitar as acções da moda e em indústrias da moda. (Aqui o importante é evitar as empresas com muita cobertura mediática com muita exposição pois normalmente estão muito sobre-avaliadas e muito sujeitas a especulação).
  • Empresas sem dívida não podem falir.
  • Dedicar pelo menos uma hora por semana aos investimentos.
  • Em caso de dúvida não devemos avançar no imediato.
  • Ter cuidado com o rácio Preço/Lucros. Se a empresa estiver muito sobre avaliada muito dificilmente será possível ter retorno do nosso investimento no longo prazo.
  • Procurar por empresas que costumam comprar as acções próprias. (Mas devemos ter em atenção se as empresas apenas o fazem quando acreditam que estão subavaliadas.)
  • Ser paciente. Demora anos e não meses a se obter grandes resultados.
  • Muitas das vezes no curto prazo o preço das acções vão em direcção oposta aos fundamentais da empresa mas no longo prazo os fundamentais ditarão a direcção do preço da acção.
  • As quedas do mercado oferecem excelentes oportunidades para a compra de acções de excelentes empresas a preços de saldos.
Apesar de na minha opinião a principal premissa do autor não ser totalmente viável em Portugal. Portugal não tem empresas cotadas em bolsa suficientes e o país não é grande o suficiente para uma pequena empresa surgir e crescer imenso, mas os ensinamentos são válidos para muitas empresas internacionais que ainda não têm uma grande cobertura por parte dos analistas financeiros. Mesmo em Portugal existem empresas que não têm muita atenção por partes dos profissionais e que em alguns momentos chegam a estar muito desvalorizadas em relação ao ser valor real. Existe ainda no livro muita informação importante que deve ser aproveitada. Devemos sem dúvida procurar empresas que sejam sólidas com bons produtos/serviços e com potencial para se tornarem tenbaggers. De reter que devemos conhecer o mais possível as empresas onde investimos e ter um noção de qual é o seu verdadeiro “valor”. Para mim este é uma habilidade essencial para qualquer pessoa conseguir no longo prazo melhorar a sua situação financeira. Acho que esta habilidade é tão ou mais importante que as habilidades que usamos/desenvolvemos no dia a dia para conseguir realizar o nosso trabalho. 

E vocês já leram o livro? O que destacam? Foi útil na vossa evolução de avaliação das empresas?
 
Bons Investimentos com Valor.

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